terça-feira, 29 de março de 2011

could have been.



Quando eu tinha uns 11 anos eu era encarregada de passear com o nosso cachorro semi-psicopata. Eu dava voltas na quadra, inventando histórias e namorados e planejando o que fazer num futuro em que não tivesse acne. O de sempre. E em um dia como qualquer outro surge uma garota da minha idade...falando comigo. Qualquer que seja o equivalente para small talk infantil, ela estava fazendo. Eu não lembro exatamente como o assunto chegou num ponto tão intenso, mas ela acabou me perguntando se queria ir para casa dela ou algo do tipo. Eu parei. Eu devo ter pensado por alguns segundos, até gaguejado um pouco. Disse que minha mãe estava me esperando em casa, ou que eu estava muito, muito ocupada.

Era mentira. Minha mãe não ligaria se demorasse mais um pouco. Eu não tinha nada para fazer. Ela foi embora e eu nem sei se lembrei do nome dela por mais de um dia. O que lembro é de ter repassado essa cena centenas de vezes na minha cabeça; de não conseguir entender o porquê de eu ter recusado. A garota passou a ser um símbolo do que poderia ter sido, de um futuro brilhante que perdi com uma só frase. Aquela tarde seria a melhor da minha vida. Ela teria me apresentado para todos seus amigos. Nós passaríamos tardes preguiçosas andando de bicicleta e tomando picolés. Conheceria o meu primeiro namorado. Teria o meu primeiro beijo embaixo de uma árvore. Eu seria outra Ananda, uma Ananda melhor. Até minha acne desapareceria.

Minha infância foi cheia desses momentos que, para a minha cabeça mezzo perturbada, definiram quem eu sou. Se tivesse cruzado a rua antes de me mudar ainda teria o mesmo grupo de amigas da quarta série. Estaria casada se tivesse beijado o garoto certo. Seria mais alta se tivesse ido para uma festa. Seria qualquer outra pessoa se tivesse falado a coisa certa. A Ananda real era apenas o resultado de um monte de erros empilhados.

Alguns anos depois eu percebi que ainda tenho esse mesmo problema de idealizar outras possibilidades, de auto-sabotar minhas decisões. Você escolheu baunilha, ew, chocolate teria sido melhor. E isso pode ter funcionado quando eu tinha, sabe, 11 anos.

Porque as minhas decisões não são as melhores. Na verdade, as vezes elas são bem ruinzinhas. E eu ainda estou aprendendo a lidar com a Ananda-Ananda. Mas acho que parte de crescer é não culpar os seus problemas em uma garota de 11 anos que um dia te chamou para passar a tarde na casa dela.

E whatever, ela poderia ter sido a garota mais chata de todas.